Reproduzimos aqui, leitores, para o dileto almoço bibliofágico de vocês, o conteúdo de que tratamos no primeiro post, sobre as mudanças propostas pelo governo e o que pensa seu titular, reitor da Universidade Diego Portales (na Espanha) que, embora muitos acreditem não ter análogo no Brasil nem ligação umbilicalmente definida, encontrou um povo satisfeito com o sistema, mas insatisfeito com as formas de tratamento de uns sobre outros.
Peña sabe que o Brasil passa por transformações. O que ele não diz é que estas transformações acontecem mundo afora, uma maneira de mostrar a indignação que ele relata no problema. A raiz está na maneira como somos tratados e não na carta de soluções aos problemas!
NÃO HÁ PROPOSTA
ANTICAPITALISTA!
Carlos Peña
doutor em Filosofia e
Reitor da Universidade
Diego Portales
O que acontece, em minha opinião, e isso é o que foi dito nos últimos três anos, é que essas mudanças materiais produziram profundas mudanças culturais e subjetivas, em particular, um aumento das expectativas e o desejo que as ideias que legitimam a modernização capitalista – a igualdade de oportunidades e a meritocracia – realmente sejam realizadas. Há uma mudança na subjetividade com que se vive o processo de modernização – e as expectativas que são dirigidas a ele – mas nenhum projeto de modernização alternativa. Os partidos e seus líderes estão se acomodando a essa nova subjetividade, que não foram capazes, nem por um momento, de antecipar.
Os protestos, mais que alterar o tabuleiro político, mostraram a fragilidade da representação parlamentar de duas maneiras: intelectual, já que os parlamentares não foram capazes de discutir racionalmente com os jovens ou mostrar onde estavam errando (em vez disso, simplesmente os elogiaram ou juntaram-se as suas demandas); e institucional, porque o sistema mostrou que não é capaz de acolher uma representação mais precisa dos interesses sociais, racionalizá-los a tempo e conduzi-los.
Mais importante, colocaram o tema na agenda pública e, hoje, é um assunto que todos discutem. É um sinal de que os jovens valorizam a democracia e as instituições, e começam a acreditar que a mobilização social pode, além de ser um gesto para pressionar e denunciar, ajudar na deliberação pública. No Brasil e no Chile não se vive uma revolta anticapitalista, mas o contrário: as pessoas levaram a sério o capitalismo e suas promessas de bem-estar crescente e igualdade de oportunidades!
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